Uma cidade capital é rodeada e alimentada por cidades metropolitanas que acessam serviços de integração de ônibus e ofertam consumo e mão de obra na forma humana, fazer parte da grande capital é, enquanto cidade, perder uma identidade e um nome, tornar-se anexo. Nessa configuração, surgem as cidades dormitório, anexos destinados ao fim puro do dormir de grande parte dos seus cidadãos. Habitar uma cidade dormitório é ter casa e descanso em um lugar acessível financeiramente, mas estar muitas vezes fadado ao trabalho e ao consumo na cidade ao lado, a capital.
Adentrando e investigando o território de uma cidade dormitório, esse trabalho inicia a partir de um passeio no Google Street View e Google Earth pelo município de Piraquara, parte da região metropolitana de Curitiba, capital do Paraná. Nesse passeio, captura imagens de paisagens com deformidades e de transeuntes que encaram a câmera-carro. O foco da andança digital se institui sobre ruas que possuem uma intensa atividade construtiva em meio a grandes espaços inabitados.
Ao nos apropriarmos de uma imagem mapeada, construímos uma percepção de reconhecimento de território e a utilização dessas imagens podem propor uma nova forma de habitá-las. Aqui, o objetivo dessa apropriação é instigar a reflexão acerca dos espaços de uma cidade, sua identidade, modificações e os corpos que, em plena luz do dia, habitam um lugar destinado ao dormir.
O corpo que dorme é também o corpo que sonha. As composições das imagens investem em um lugar onírico, onde rostos borrados encaram o espectador enquanto flutuam em paisagens surreais sonhadas por máquinas, construção primordial a partir de tecnologia digital. Assim, após as primeiras capturas, as imagens se sobrepõem em colagens - movimento próximo ao sonhar, que coleta do real para construir o novo.
O que sonha um corpo que trabalha? O que sonha um corpo que muda de cidade diariamente? Quem está presente durante a ausência? As imagens construídas nesse trabalho propõem algumas possibilidades, mas como sonhos que se esvaem rapidamente, espera abrir espaços para construções individuais e coletivas daqueles espectadores que encaram rostos sem olhos, sem nome certo, como em um sonho, e procuram identificar os personagens que alí habitam. PIRAQUARA cidade dormitório convida a um sono leve e sonhos profundos para que, no ato do acordar, novas possibilidades de mundo possam surgir.
Colagem digital com capturas do Google Earth e Google Street View